Travessia Pirineus 2006

Descrição da Travessia em Autonomia dos Pirineus em Agosto de 2006

Tuesday, March 02, 2010

Actualização Janeiro 2010

Ainda em 2009, a Renfe cancelou o serviço nocturno entre Irún e Barcelona do comboio Estrella Pio Baroja. Em seu lugar existem dois serviços diurnos em comboios de alta velocidade, o que não facilita nada o transporte de bicicletas.

Uma boa alternativa ao que nós fizemos passa por viajar directamente de Lisboa para Barcelona usando uma companhia aérea Low Cost e voltar com o sud-expresso de Irún para Lisboa.

Já agora, se fizerem alguma pergunta, não se esqueçam de deixar um endereço de contacto para eu saber para onde responder.

Thursday, January 04, 2007

Artigo BikeMagazine (Jan/2007)

Na edição de Janeiro de 2007 a Bike Magazine publicou um artigo de 6 páginas dedicadas à travessia relatada neste blogue. Adicionalmente, para surpresa nossa a travessia foi também tema de capa.


Assim sendo, resta dar os parabéns a BM pela excelente paginação e composição, e ao Zé Pedro pelas fotos que foi tirando durante a travessia. Faço votos que este artigo seja motivo para que muitos mais BTTistas se decidam a empreender as suas travessias, nos Pirinéus ou noutro sítio qualquer.

Boas pedaladas,
Jorge Santos

Tuesday, October 31, 2006

Resumo / Conclusão

Lhança – Hondarribia
1005Km – 102hrs
Altitude [Acumulado – Max]: 25998 – 2270

Mapa da Travessia



Comentários

No final do mês de Agosto, o José Pedro e eu próprio, fizemos a travessia do Pirenéus em BTT em autonomia.

Depois de pesados os prós e contras, optamos por levar a casa às costas,incluindo entre outros, tenda, sacos-cama, colchonetes, kit-cozinha. Com os alforges a transbordar, a bicicletas ficam muito mais pesadas e ganham uma dinâmica muito "própria", as subidas tornam-se ainda mais "íngremes" e as descidas exigem maior controlo. Para além da vantagem óbvia, da travessia ficar muito mais em conta, há um aspecto puramente emocional que muito me condicionou na decisão, a possibilidade de conjugar duas palavras mágicas: BTT e autonomia. Claro que isto vale o que vale, quando ao fim do dia dormíamos nos parques de campismo com água quente!

Num paragrafo, foram 15 dias muito desafiantes de puro gozo e muito muito BTT. Através de estradões, ribeiros, single-tracks, pinhais, bosques de carvalhos, canyons, paisagens deslumbrantes e claro algum cimento e alcatrão, desde o mar Mediterrâneo (Llançá) até o oceano Atlântico (Hondarribia/Irun). Foram 15 etapas em que atravessamos diferentes regiões autónomas, Catalunha, Aragão e Navarra, com final no país Basco e com passagem em França. Pelo caminho, entre muito imagens, retenho as estâncias de esqui, as aldeias minúsculas com reduzida/nenhuma presença humana, as ribeiras cristalinas e claro, as muitas vaquinhas que pastavam nos lugares mais inóspitos dos Pirineus.

Quase por fim, os números “secos” que não dizem quase nada, 1005km de extensão, 26000mt de ascensão acumulada e 102 horas gastas no total das etapas.

Quando a memória começar a sofrer a erosão do tempo, quando os nomes daquelas terras ficarem puídos e as imagens mais esbatidas, hei-de relembrar o companheirismo e a paciência do meu amigo Zé Pedro, que tornaram possível a Travessia.

JS


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Há cinco anos atrás e desafiado por um amigo embarquei na aventura de ir fazer a Travessia do Pirinéus na Companhia do António Malvar. Era a minha primeira travessia e sem dúvida que foi um momento marcante na minha relação com o BTT, a sensação de satisfação e de realização ao olhar para um mapa e só nesse momento ter a noção do caminho já percorrido de bicicleta é única.

Foi de tal maneira fantástico que pouco depois de ter acabado a travessia já estava a pensar em repeti-la. Fui preparando o caminho com a compra do livro com a descrição do percurso e analisando as várias opções de quem tinha feito a travessia dos Pirinéus descritas na Net. Finamente no inicio de 2006, tomei a decisão de repetir a travessia e convidei alguns dos meus companheiros de BTT. Felizmente que o Jorge aceitou e embarcou no projecto com um entusiasmo que rapidamente ultrapassou o meu.

Comparando as duas travessias, já a dois meses de distância, a maior mudança é o avanço do alcatrão. Os trilhos principais ou foram asfaltados ou parecem estar em vias disso. Pelo contrário, há trilhos que estão num estado lastimoso que nem para travessias pedestres são indicados. Apesar de tudo o mais importante permanece: as subidas intermináveis com as montanhas como pano de fundo.

O facto de irmos em autonomia e levarmos as bicicletas carregadas com alforges, tornou as subidas mais íngremes e as descidas mais alucinantes. No entanto a maior diferença é mesmo andar com a bicicleta à mão no meio da calhauzada. Se em condições normais já é penoso, com os alforges torna-se numa prova de perícia.

Não posso terminar a minha reflexão sem agradecer ao Jorge a sua companhia e entusiasmo. Se não fosse ele não teria ido este ano e o seu entusiasmo contagiante ajudou-me a continuar nos momentos em que nos perguntamos “O que estou aqui a fazer?”.

ZP


Transportes

Decidimos partir do Porto e viajar de carro até Irun. Onde apanhámos um comboio nocturno até Barcelona e daí um comboio regional até Llança. O carro ficou os 15 dias em Irun à nossa espera e fizemos a viagem de regresso de carro. Foi uma boa opção e a melhor maneira de respeitar as restrições da Renfe ao transporte de bicicletas nos comboios de longo curso.

Mapas e Orientação

Como base do percurso e para definição das etapas usámos o livro “La Travesía de los Pirineos en BTT” por Jordi Laparra da Editora Prames (www.prames.com). A orientação no caminho foi feita usando um GPS Garmin Etrex VistaC em que levámos os tracks carregados na memória de mapas do GPS. Conseguimos assim carregar todos os tracks antes da partida e evitar levar mais electrónica. A primeira metade do percurso foi feita com dois conjuntos de baterias recarregáveis que iam de casa, o resto com baterias descartáveis. Os tracks que usámos foram retirados do site http://siemprebtt.awardspace.com/index.php e transformados em mapa com o utilitário GPSmapper (http://cgpsmapper.com/).




Wednesday, October 11, 2006

Etapa 15 - De Erratzu a Hondarribia - 1/Setembro/2006

Erratzu – Hondarribia
77Km – 8hrs40m
Temperatura [Min/Max – Med]: ND
Altitude [Acumulado – Max]: 2150 – 815


Mapa da Etapa



Altimetria


Comentários do Dia

Último dia. Depois da maratona do dia anterior, tínhamos mais uma longa etapa com 80Km.

O dia, ainda no camping, começou com alguns problemas nos suportes do porta-alforges do ZP que nos fizeram sair um pouco mais tarde do que o planeado. A primeira parte consistiu numa sequência de collados com inclinações brutais: No inicio em cimento e posteriormente em pistas muito difíceis. As descidas foram feitas por pistas com alguma lama entre arvoredos muito bonitos que estavam com um aspecto algo sombrio devido ao dia muito húmido e às neblinas. Quando chegámos a Etxalar no km 35, estávamos já cansados, a etapa estava a ser muito dura.

A partir de Etxalar restava cumprir a última etapa até Hondarribia, que a julgar pelos números não nos impressionara: 1000mts de ascensão em 45Km.Puro engano! Os collados de Lizarreta e depois Venta Yasola e Poiriers mostraram ser talvez dos mais duros de toda a travessia, com abundância de rampas em cimento e trilhos com calhau onde foi preciso empurrar a bicicleta. As descidas foram sistematicamente feitas por trialeiras, que mesmo para caminhos pedestres era muito difíceis. Em particular a descida de venta Yasola. A travessia conforme o ZP previu foi muito desafiante mesmo até aos últimos kms.

Chegamos a Hondarribia para a foto na praia, o flash foi utilizado, bem significativo do adiantado do dia. A última etapa foi seguramente a mais dura de toda a travessia.

JS
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O Último Dia! Já só falta etapa e meia para o fim.

Com a reparação aos alforges acabámos por sair tarde, já depois das 11hrs. Como me recordava, é uma etapa duríssima. Rampas muito inclinadas, descidas em trilhos impossíveis de fazer e um tempo muito húmido contribuíram para fazer desta etapa uma das mais duras de toda a travessia.A distância e uma cota máxima relativamente baixa, 800mts, escondem uma realidade bem diferente.

Apesar de ser uma etapa em zonas habitadas, houve poucas hipóteses de abastecimento, as Ventas já estavam fechadas e a partir de certa altura queríamos mesmo era chegar ao fim ainda de dia. A parte final é em estradas muito movimentadas e eu tenho quase tanto medo dos condutores espanhóis como dos portugueses. Serviram as últimas duas das três barras que tinha levado como ração de emergência. Mais uma vez os Pirinéus relembram-nos a não os menosprezar!

ZP


Fotos


Os zipties e a fita adesiva salavaram o dia!






À chegada, 15 dias e 1.000kms depois!

Etapa 14 - De Isaba a Erratzu - 31/Agosto/2006

Isaba – Erratzu
112Km – 9hrs11m
Temperatura [Min/Max – Med]: ND
Altitude [Acumulado – Max]: 2900 – 1330


Mapa da Etapa


Altimetria


Comentários do Dia

De acordo com o plano, a etapa 14 previa 1700mts de ascensão em 77Km até Roncesvalles. Por essa razão iniciámos o dia bem cedo. As primeiras Colladas: Laza e Ollokia, são vencidas em alcatrão. Depois entramos numa pista óptima que atravessa a floresta de Irati, a maior mancha florestal da Europa Ocidental, segundo os folhetos turisticos. Fazemos Kms e Kms de carvalhos. Durante todo o trajecto, graças à mentalização do dia anterior e à qualidade das pistas a média foi sempre muito elevada, 16km/h.

Como chegámos a Roncesvalles com o sol bem alto, decidimos estender a etapa até Erratzu. Nesta nova solução comprimimos as última 3 etapas para dois dias e evitamos dois alojamentos em pensões. Assim, prosseguimos com uma ascensão para o Puerto de Ibañeta e depois o Collado de Lindux, este com umas rampas de cimento muito inclinadas.

Seguiu-se uma descida de 20Km até Banca, já em território Francês. O Collado de Elorrieta proporcionou-nos umas rampas de cimento muito difíceis, em pouco menos de 8kms, subimos 550mts. A descida começou num belo prado por um caminho que em parte se confunde com uma linha de água, apesar de muito calhau foi transitável.
Resultado, 112Km de belo BTT e 2.900mts de ascenção acumulada ao 14º dia.

JS

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Sem dúvida o melhor dia até agora! Pistas muito rolantes, belas paisagens, clima ideal, a combinação perfeita. Chagámos tão cedo a Roncesvalles que decidimos continuar. O único senão foram os suportes dos alforges não terem aguentado, e ter acabado a etapa com o suporte solto.

O ritmo foi de tal maneira que até parámos a meio da manhã para fazer um cházinho para mim e um café para o Jorge.

Em resumo: muito duro, muito acumulado e belas paisagens.

ZP

Fotos


Paragem em Roncesvalles





Etapa 13 - De Hecho a Isaba - 30/Agosto/2006

Etapa 13
30/ Agosto/2006
Hecho – Isaba
42Km – 5hrs30m
Temperatura [Min/Max – Med]: 18/32 - 24
Altitude [Acumulado – Max]: 1165 – 1295


Mapa da Etapa



Altimetria



Comentários do Dia

Esta foi uma etapa curta por força de termos estendido a anterior até Hecho. A etapa começou com uma subida em alcatrão, quando chegámos ao topo saímos para um estradão no qual encontrámos uma rampas de respeito (que pela primeira vez me levaram a desmontar nesta travessia). Saímos para um trilho de pé-posto, uma trialeira com quilómetros de extensão, com muitas passagens muito difíceis.
Assim que chegamos a Ansó, outra vila muito bonita e típica, onde fizemos um pequeno reforço alimentar. Nova subida para Zurisa e depois Puerto de Navarros, porta de entrada em Navarra, Aragão ficou para trás.
A entrada em Navarra foi fantástica, mais um singletrack por entre as árvores que no seu final desemboca numa trialeira, que coincide com um fio de água seco, o difícil é manter-se em cima da bicicleta. O troço final é um estradão junto a um ribeiro.
Em Isaba o camping fica a 6kms em direcção a França, decidimos dormir num albergue.

JS
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Esta etapa teve algumas partes muito técnicas, com muito calhau e pedra, que me obrigaram a desmontar o que fez com que demorássemos muito tempo. De resto nada a assinalar, exceptuando o belo vale Zurisa e a sua estrada de acesso ao longo do curso de um ribeiro numa garganta muito estreita, e o espantoso e técnico singletrack na entrada em Navarra. BTT do melhor!
Já só faltam 3 etapas, olhando para o mapa impressiona o que já andámos, quase que se consegue sentir o cheiro do Atlântico. :)

ZP



Fotos








Etapa 12 - De Aurin a Hecho - 29/Agosto/2006

29/ Agosto/2006

71Km – 7hrs00m
Temperatura [Min/Max – Med]: 19/33 – 26
Altitude [Acumulado – Max]: 1650 – 1500

Mapa da Etapa



Altimetria



Comentários do Dia

O final da etapa de ontem foi estranho! Acampámos num parque junto a uma estrada nacional com bastante movimento e razoavelmente perto de uma pedreira. O parque estava quase repleto de roulottes e casas pré-fabricadas. Perante isto há uma pergunta que não conseguimos responder: Quem é que quer ter uma segunda casa naquele local?
As duas últimas etapas no seu conjunto foram muito duras em particular as descidas, com muita pedra solta, são um massacre para as articulações, músculos e para as bicicletas. No parque verifiquei que o pneu de trás, um belíssimo Larsen, está a babar-se todo e tinha um taco descolado!
Resolvemos com supercola3 mas creio que está prestes a entregar a alma ao criador. Pelo seguro decidi comprar um pneu suplente em Sabiñánigo que para já no troquei. Era mesmo o que o meu alforge precisava: peso extra.
Fazer algumas compras numa cidade foi uma experiência. Havia muitas pessoas e carros e tudo se movia muito rapidamente à minha volta!! O regresso à vida vai ser difícil.
A etapa de hoje começou como já vem sendo hábito com uma bela ascensão num trilho com pedra solta, o final tinha umas rampas com uma inclinação muito forte, ou então são os músculos que já começaram a ceder.
Mas o perfil da etapa não se limitava a uma ascensão e descida, a partir de hoje entramos num formato rompe-pernas, depois da prolongada e mais difícil subida aos 1500mts, fizemos 3 cumes consecutivos quase iguais em alcatrão.
O final da etapa consistiu numa descida para o vale e posterior subida para Hecho sempre com vento de tal modo forte pela frente que mesmo para descer era preciso pedalar bem. Enfim, outra desafiante e gostosa etapa.

JS
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Etapa 12, a etapa da crise. O fim está próximo e a etapa em si não tem grandes pontos de interesse. É daquelas partes a meio de uma viagem que só é feita porque fica no caminho e tem de ser feita para chegar ao fim.
Como decidimos pernoitar em Hecho, ficou maior do que o previsto no livro. Decidimos também fazer a ligação de Jasa a Hecho por estrada, o caminho original tem uma parte muito grande de empurrar as bicicletas à mão depois de Aragués del Puerto que não acrescenta nada. Mesmo com o vento que estava foi bom ter um bocadinho para rolar e esticar as pernas.
Na descida para Jasa a bicicleta do Jorge estava a fazer um barulho algo estranho, a pastilhas de trás estavam tão gastas de um lado que estavam a afiar o disco de trás. A aproveitámos a paragem em Jasa para trocar as pastilhas da frente para trás e meter umas novas atrás. A pulsação média está cada vez mais baixa, nos primeiros dias andava por volta dos 115 bpm, hoje foram 108.
Amanhã espera-nos uma etapa curta de 40Kms e a entrada em Navarra.

ZP


Fotos



Etapa 11 - De Fiscal a Aurin - 28/Agosto/2006

Fiscal – Aurin
55Km – 6hrs05m
Temperatura [Min/Max – Med]: 10/31 – 25
Altitude [Acumulado – Max]: 1300 – 1770

Mapa da Etapa


Altimetria


Comentários do Dia

A etapa de hoje foi mais dura do que eu esperava. A ascensão a Peña Outuria foi muito demorada, cerca de 30km, com as pistas bem marcadas, mas com alguma lama e água o que nos garantiu pés fresquinhos para toda a etapa, e também trialeiras difíceis, um parte do percurso coincidia com uma ribeira que trazia água.
A parte final da ascensão era feita por um trilho entre pastos cheio de pedra solta a dificultar muito a progressão. A descida foi muito acentuada, desgastando muito os pneus e ciclistas, com muita, muita, pedra solta.
A aproximação final a Aurin, fez-se pela estrada N-260, já uma velha conhecida.

JS
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Mais uma etapa de maratona: começo com 30kms sempre a subir para irmos dos 800mts aos 1800mts; seguida de uma descida cheia de pedra solta que parecia o coelho das pilhas: dura, dura, dura... Em resumo uma etapa fenomenal!
Na subida, ia caindo numa poça de lama e fiquei com o desviador e a corrente totalmente cobertos de uma lama fininha que fazia com que ouvisse um barulho de material a moer de arrepiar. Usei a água do bidão para fazer uma limpeza na corrente, mas o risco de chainsuck era uma constante.
Fomos às compras a Sabiñánigo que o pneu detrás do Jorge tem um taco colado com super cola e eu não paro de coçar as picadelas de ontem. Havia tanta gente e carros nas ruas que não descansei enquanto não fugimos para a paz relativa do Camping. O regresso à civilização não vai ser nada fácil.

ZP

Fotos